terça-feira, 12 de maio de 2015

Sobre A Poesia Contraditória Que Vivo

Dia desses, como hoje, resolvi criar. Juntei ideias com minha parceira e esposa, construímos conceito, estudamos bastante. Coloquei no caldo ralo que tínhamos: minha trajetória (e a dela), nossas utopias e uma expectativa grande, do tamanho da vida que queríamos. Em fogo brando, bem baixo mesmo, vi nascer algo novo, algo que me orgulha muito e é referência no que se propõe a fazer. A Poeme-se nasceu assim.

Nascer não significa, entretanto, existir por muito tempo. Não são as expectativas que atribuímos aos sonhos que permite que eles se tornem de carne e osso (já são 5 anos). Teve (tem) muito suor no lance, muitas lágrimas e calos nas mãos. Criar um caminho é viver plenamente as conquistas e as vicissitudes inerentes a qualquer projeto de vida. E nesse sentido, o caminho é bem espinhento. No entanto, dizem que são entre os espinhos que florescem as flores mais belas. A Poeme-se cresce assim. 

Ainda sobre os espinhos, sobre o que fere nesse território que a Poeme-se edifica, há coisas que não entendo. Há dores desnecessárias e valores que não agregam. Veja que, avaliando o que fazemos e para quem fazemos, percebe-se claramente que não é o poeta nosso parceiro. Quem faz poesia não vê valor em nosso trabalho (tirando os amigos que são muitos e outros casos raros).

O poeta (não todos), esse artista, acha que poesia deve ser sacralizada. Outro dia ouvi (li), que “Baudelaire deveria estar se revirando no tumulo vendo sua poesia em camisetas, essa coisa tão baixa”, ouvi ainda que “essas pessoas que compram nunca devem ter lido machado de Assis, é só moda”. Eu quero poesia na boca do povo, no peito de quem rala de segunda a sexta. O poeta acha errado comercializá-la? Acha errado Machado popular, Bilac no boteco? 

Por muito tempo vivemos em uma sociedade onde os bens culturais pertenciam a uma classe. Por muito tempo vivemos em uma sociedade onde o poder da fala e do discurso pertenciam apenas a uma classe. A poesia era deles, por eles, para eles. Não mais.

Dia desses, como hoje, minha esposa e eu dissemos que queríamos viver de poesia nesse país de, ainda, muitos não leitores. Verbalizamos o substantivo, junto com nossas crenças, para que o poema exista em movimento para quem for de poema.

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